Brasil! Eu não desisto!
por Silvio T Corrêa
Ouviram do aparelho de TV, tempos atrás, na sala que ocupava metade do quarto, a notícia sobre a queda da CPMF. Não demorou muito e passaram mantega na pista “que é pra nós escorregar e cair de bunda no chão da realidade”. Logo veio: “Nós vamos retaliar!”
Ipiranga, a estação da CPTM, estava sombria e o trem não chegava. Bem que podia ser um trem internacional. Não! Seria trocar um sapo com barba por um sem. Talvez um trem, exclusivamente, intercontinental!
Às margens da estrada de ferro, os prédios abandonados com as janelas quebradas retratavam, com fidelidade, o sentimento de abandono, de descaso, que tomou conta de quase todos.
Plácidas, altivas e, ainda assim, como que alheias a tudo, no último banco do vagão; duas senhorinhas, da melhor idade, conversavam animadas. Sentei o mais próximo que pude, ainda que soubesse do pecado da indiscrição e da falta de educação que eu estava praticando. Mas precisava saber o que as deixava tão empolgadas e sei que seria mais fácil perguntar. Só que eu estava envergonhado pelo desânimo que sentia.
De um povo heróico, mas cansado de acreditar numa esquerda safada, numa direita sem-vergonha e num centro pior ainda, já ouvi muita coisa desesperada. Até dizerem que o “caçador de marajás” foi uma coisa boa, eu já ouvi! Mas as senhorinhas estavam acreditando na Vida, independente se fosse no Brasil ou em qualquer lugar. Faziam planos e estavam empolgadas para a abertura de uma lojinha de pastéis. Não me contive e perguntei: “Como as senhoras conseguem?”; “Não ficam preocupadas com o mundo e o Brasil que estamos vendo?”
O brado retumbante, veio forte, do íntimo jovem de cada uma daquelas duas senhoras! “O senhor está?”; “Fez, hoje, alguma coisa pra mudar?”; “Viu alguém jogar papel na rua e, reclamou? Ou deixou pra lá?”; “Fez, ao menos, alguma coisa diferente?” — calado continuei. “É claro que estamos preocupadas e estamos procurando fazer o que está dentro do nosso alcance. É o que podemos!” A pergunta martelava: Estou fazendo algo?
E o sol, da liberdade, que rompe os grilhões das prisões internas da alma, mostrou os primeiros raios. O problema maior, não está lá fora. É interno, é íntimo! Eu posso xingar, espernear, socar o ar ou a cara de alguém, ficar com pena de mim, culpar esse governículo que está aí, ou então fazer, realmente, algo que possa mudar, pelo menos, o meu mundo. Não é fácil, mas vale à pena.
Em raios fúlgidos, as duas senhorinhas brilhavam, apontando, não o caminho que eu deveria descobrir, mas a direção somente. Como pode? Estamos assim, tão cegos? Capazes de não vermos o que está à nossa frente? Agora então, com a crise americana, podemos nos esbaldar em motivos onde colocarmos a nossa culpa. É tudo tão negro, e fácil, assim? Eu, de nada valho?
Brilhou no céu, ao escurecer, a estrela da esperança. Esperança de novos rumos! Esperança de novos tropeços, pois os caminhos serão outros! Novos erros e, claro, muitos acertos! Esperança da união; do amor; da boa luta;
Da Pátria, nesse instante!
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