Dia das Mães
por Silvio T Corrêa
Eu queria tanto escrever uma crônica sobre a Mãe. Queria escrever sobre a mãe-mulher, a mãe-homem, a mulher-mãe, o homem-mãe! Mas o máximo que conseguia era olhar, as vezes por minutos seguidos, o título que eu já tinha escrito há quase 3 horas.
Resolvi sair, pegar um ônibus e observar. Com o gravador em punho, as pessoas estranhavam um cara, no "meio da rua", falando baixinho para a sua mão. Pensando bem, é estranho mesmo!
Assim que subi no ônibus, a primeira pessoa que vi foi o motorista. Na verdade, a motorista! Fui recepcionado por um sorriso!
Apenas com essa visão, já teria "inspiração" suficiente para falar sobre Mãe. Não sei o nome, mas deve ser Maria. Maria Mãe, Mãe Maria! Tento imaginar o dia de Maria.
Ainda na madrugada, às 4h, Maria levanta. Ao esticar os braços, expulsando a preguiça, toca o rosto do companheiro, que dá um sorriso e volta a dormir. Nas camas, as crianças ainda dormem, pois apesar dos reveses diários, a Mãe Maria está ali, zelando por eles.
No chuveiro, a água gelada do outono desperta de uma vez Maria. Está totalmente refeita, pronta para mais um dia. É dada a largada!
Mesa posta para o café; almoço pronto; uniforme separado. Tudo pronto!
— Bem! Bem! Acorda dorminhoco! Estou saindo. Daqui a pouco é preciso acordar as crianças!
O ônibus chegou no centro e nem reparei! Meus pensamentos ficaram interrompidos.
"Moço, me ajude!", disse um senhor, sem olhar diretamente para mim. O desânimo nos olhos era tão grande que a súplica foi enviada sem direção, buscando atingir qualquer ouvido. — O meu estava atento porque eu estava procurando, mas sei que, normalmente, não escutaria o pedido.
Como deve ter sido o dia desse Pai Maria, dessa Mãe João. Será que dormiu, será que olhou para os filhos, será que olhou para a mulher, Maria Mãe. Ou sera que nem pra casa conseguiu voltar. O que será que passa no pensamento da Mãe João? Será que tem esperanças?
Não tive inspiração! Me senti perdido! Comprei uma quentinha e, quase pedindo desculpas — Sim! Eu me sinto responsável! —, entreguei ao Pai Maria.
A idéia do Pai Maria me sensibilizou. A Mãe vai muito além da Maria ou do João. Ninguém é Mãe porque pôs no mundo. É Mãe porque zela, porque cuida, porque se importa. O filho pode ser Mãe da mãe, o pai ser Mãe da esposa, a esposa ser Mãe da sogra. Mãe é um estado. Cada um de nós, se quisermos, pode ser Mãe. Podemos ser Mãe, até mesmo, por alguns minutos, ao consolarmos alguém, ao levantarmos o astral de um colega.
O dia das Mães passa a ter um significado além. Assim como dizemos que todos os dias deveriam ser dias de Natal, dizemos, também, que todos deveriam ser dias da Mãe.
Deveríamos nos perguntar, todos os dias: Eu fui Mãe hoje?