Não só o conselheiro
por Silvio T Corrêa
Constantemente paro o que estou fazendo e saio procurando, pela internet, crônicas e contos dos meus autores preferidos. Pois bem! Um dia desses, matando a saudade de ler os escritos de João Ubaldo Ribeiro (¹), de quem sou fã, dei de frente com a crônica "O conselheiro come ... " e suas edições. Fiquei pensativo.
Ora, se o Ruy Barbosa, "O Ruy Barbosa", era alvo dos pidões; se João Ubaldo Ribeiro foi, e ainda é, empanturrado de solicitações "sem custo"; muito me orgulha receber uma ou outra solicitação de um textinho aqui e outro ali, ainda que eu também coma. Mas eu, um pequenino escritor, ainda como também com os olhos e é aqui que a coisa pega. Não satisfeitos em solicitar uma crônica para disponibilizar em algum sítio da internet, jornal ou alguma revista, acabam publicando bulhufas e eu, além de ficar sem comer com a boca e com os olhos, fico com uma gastura danada.
Tive um colega, dono de um botequim, que dizia que ele reconhecia, entre os conhecidos, os amigos quando eles iam tomar uma cerveja ou comer alguma coisa. Dizia ele que Amigo, é aquele que quer pagar a conta do que consumiu.
Mas sempre tem né! O sujeito que quer levar vantagem existe em qualquer lugar, em qualquer profissão. É amigo, colega, conhecido, inimigo, parente — esse então! —, vizinho. Gente de todo tipo, raça e credo. E político? Esse nem é bom comentar! Religioso gente, tem religioso querendo, e levando, vantagem!
Ora, contudo não é só de comida e textos que vivem os pidões. O pessoal que canta e que toca tem, também, seus momentos de "non profit", "sem custo", ao atenderem o conhecido pedido de "dar uma canja". A canja (²), por sinal, deveria ser o símbolo mor dos pedidos de "ajuda gratuita" — não estranhem, é pra reforçar o sentido. Também não podemos esquecer do pessoal da informática que, além de saberem de tudo, são sempre agraciados com pedidos de canja. Rapaz, eu ia esquecendo dos contadores e advogados, principalmente nesta época do imposto de renda, que não dá canja pra ninguém ( o imposto). Ia eu esquecendo dos desenhistas.
Pensando bem, não dá pra aliviar ninguém. Acho que todos nós somos, uns mais e outros menos; em certas épocas mais, e em outras, menos; alvos dos amigos pidões, colegas pidões, namorado(a) e cônjuge pidão, parente pidão, agregado pidão e a raça dos pidões de plantão. Acho mesmo que deveria constar no cadastro brasileiro de ocupações, CBO, a ocupação de "pidão de plantão". Deveria existir o dia do Pidão Internacional, pois convenhamos que não é possível que só exista pidão brasileiro. Também não vamos avacalhar!
Então, deixa eu aproveitar o clima e pedir.
Se gostaram dessa crônica, divulguem! Se não gostaram, divulguem também. Só de raiva!
(¹)
João Ubaldo Ribeiro - http://www.releituras.com/joaoubaldo_bio.asp
O conselheiro come ... - http://www.almacarioca.com.br/cro68.htm
(²)
Conta a lenda que a expressão "dar uma canja", surgiu através de cantores e instrumentistas que tocavam e cantavam por "um prato de canja".
Marcadores: canja, cotidiano, Crônica, João Ubaldo Ribeiro