Palestra motivacional. Solução ou problema?
por Silvio T Corrêa
O ponteiro das horas já avançava um pouco das 22h. Dois amigos, empresários, tinham acabado de assistir uma palestra motivacional e caminhavam em direção ao estacionamento, aos seus respectivos automóveis.
- O que você achou da palestra?
- Ah! Gostei muito! Tem tudo a ver!
- Eu também! Estou me sentindo revigorado!
- Acho que vou contratar o palestrante.
- Você está executando algum trabalho com os seus funcionários?
- Não! É só para dar uma sacudida neles. Acho que estão precisando de motivação.
- Eu ainda não sei. Tenho um programa de desenvolvimento com os funcionários e algumas coisas que o palestrante falou, se encaixam no programa. Quem sabe? Pode ser que eu o chame para conversar.
Esse é um dos grandes problemas das palestras motivacionais! Quando isolada, seu efeito tem a exata duração de uma noite, já que no “dia seguinte” tudo estará igual.
No entanto, quando inserida dentro de um contexto maior, como um programa junto aos funcionários, ela terá peso de ouro e o retorno proporcionado poderá ser muito grande.
Haverá, nos dias, semanas e meses seguintes, uma continuidade do exposto na palestra. Haverá ações para o aumento da auto estima; existirão grupos de estudo de como melhorar os relacionamentos; grupos que discutirão soluções de problemas; apresentação de soluções pelos próprios funcionários; um programa, sério, de sugestões; cursos ocorrerão. A palestra terá agregado valor.
Na manhã seguinte, a primeira providência de um dos empresários da nossa breve história foi emitir um memorando para a média gerência, informando que todos os funcionários da empresa, assistirão a palestra do Sr. X sobre motivação. Terminava o documento informando que a palestra será após o expediente e custeada pela empresa.
Os gerentes não gostaram da idéia, pois havia problemas que necessitavam, urgentemente, de soluções e a diretoria alegava falta de verbas. Decidiram conversar com a direção da empresa.
Sem saída, o nosso empresário decidiu não contratar o palestrante, mas enviar 5 grupos de 5 funcionários, para assistir a palestra. Fazia questão de acompanhar os dois primeiros grupos para ver as reações.
Ao término da palestra, o empresário já não estava tão empolgado como na primeira vez, mas achou que era devido ao dia estressante que tivera.
- Então! O que vocês acharam? – decidiu perguntar já que todos caminhavam em silêncio absoluto.
- É ... foi bom ... deu para dar uma renovada.
- Também gostei, principalmente das piadas.
- Foi uma pena não ter apresentado um “case”, mas acho difícil expor um caso prático de motivação.
- Eu gostei muito da frase que ele disse: “Isso também passará.”
- Foi legal!
Procurou observar nos dias seguintes, algum comentário, alguma reação dos outros funcionários, mas o que ouviu estava muito aquém do esperado.
Na semana seguinte, no dia da palestra, dois funcionários que iriam assisti-la, alegaram problemas pessoais e não puderam ir. Convocou outros dois.
O cansaço do dia a dia, não permitiu que o nosso empresário assistisse toda a palestra. Assistiu alguns trechos, entre um e outro cochilo.
- Gostaram? Então pessoal! Foi bom?
- Algumas piadas eu já conhecia.
- Muito bom!
- Pena que termina tão tarde!
- É, poderia ser durante o dia.
- Estou com uma fome!
Na semana seguinte não foi diferente. Alguns saíram mais empolgados, enquanto outros, cansados.
Culpa de quem? Do palestrante? Claro que não. Ele está fazendo o trabalho dele, vendendo o seu “peixe”. Acredito que as intenções dos palestrantes sejam as melhores. Tentam, realmente, motivar, dar ânimo aos que assistem.
Do empresário? De forma consciente, acredito que não. A intenção é boa. Afinal, quem não gosta de ver seus funcionários motivados ? No entanto, uma palestra motivacional não tem serventia, se não estiver inserida em um programa de médio / longo prazo que objetive resultados duradouros.
Do funcionário? Não! Bom, esse nem preciso dizer porque.
O que fazer?
Preparar um plano. Verificar as pendências urgentes e incluí-las com itens prioritários do plano de ação. Implantar um canal de comunicação entre os funcionários e a direção. Avaliar itens básicos, como salário e benefícios. Se necessário, contratar uma assessoria.
Não adianta esperar resultados a curto prazo, mas se ocorrer não interrompa o programa achando que não é mais necessário.
A decisão da direção tem que ser totalmente consciente. É necessário saber os objetivos que se quer alcançar. É importante traçar metas intermediárias, que facilitem a identificação da necessidade de mudança de rumo no programa.
Nunca foi fácil implementar mudanças, mas os resultados compensam.
“Pare para pensar! Pense muito bem!”