José, homem de reconhecida, e rebuscada, fluência na língua nacional pelos colegas e, diga-se, também por si próprio, tendo em vista a prolixidade com a qual procurava se fazer entender, não era um homem com “papas na língua” e nem nos dedos, como todos que se acham bons oradores ou escritores.
Não cabe porém aqui tecer comentários elogiosos à expressão verbal do José e sim, contar sobre a sua - acho que não erro em dizer - prolixidade cognitiva. O homem era uma mistura de Barsa (que está voltando com força), Lello Universal, Aurélio, Enciclopédia do Carlos Zéfiro e anedotas de alguns humoristas sem graça que fazem da ironia uma ferramenta de acinte e deboche. Mas ora, José também não era perfeito! Estou de novo a me perder em considerações!
José pensava que detinha todo conhecimento, ou pelo menos era o que transparecia, já que não assumia erros, não reconhecia a mínima falha e era incapaz de dizer desculpe! Fosse nos dias de hoje, em plena de era dos relacionamentos, inclusive como base dos negócios, José seria escorraçado. Naquela época contudo, se muito havia para aprender, por todos, sobre os sentimentos de humildade e humanidade, quanto mais por José.
Narcisista do conhecimento e escorregadio como quiabo, José palestrava muito bem sobre os assuntos que lhe convinham em determinado momento, esquivando-se, lúbrico, daqueles que não se interessava ou então, provavelmente, não detinha o conhecimento e precisava de algum tempo para adquirí-lo, fazendo frente a pecha de “sabe-tudo”.
O homem se diz professor e eu fiquei, como diria um alfaiate, amigo meu, “pensando com os meus botões”. Professor de quê? O homem versava sobre todos os assuntos. É bem verdade que em muitas vezes o texto parecia tirado de uma tese de mestrado, considerando a quantidade de referências a autores outros, mas ainda assim, lá estava José marcando presença.
Mais pensativo eu ainda ficava ao imaginar o decorrer de uma aula de José. Eu o imaginava sentado atrás de uma mesa com uma palmatória à sua frente e com filete de líquido esverdeado a correr-lhe pelo canto da boca, esperava o primeiro deslize de um aluno! Nesse momento, José se afoga num misto de prazer e divindade, vibrando ao alto, para que todos vissem e pudessem aprender, a sua palmatória “do saber” e; “senhor do conhecimento”, descia, sem piedade, sobre o lombo do aprendiz, bradando que essa atitude era para o “bem”, para que o aluno entrasse, de supetão, na trilha do saber.
Pobre José! Pensa que sabe! Pensa que conhece! Esqueceu de “amar o próximo”! Arvorou-se de “senhor dos demais”! Certamente não aprenderá nessa vida!
Pobre José! Esqueceu que “o plantio é facultativo, mas a colheita é compulsória”!