14.12.04

No Happy Hour Café com Leite...
por Silvio T Corrêa

Essa vai ser uma seção de onde sairão as histórias, tiradas das mesas onde acontece o Happy Hour Café com Leite.
É verdade que o leite, pode ser o de onça; o café, acompanhado de conhaque ou uísque, ou tomado puro, como saideira, depois de algumas cervejas. Fica tudo por conta, e risco, do freguês.
Então, nessa semana que acabou, estava um clima de Espírito de Natal, por causa da seguinte história:

Pois é amigos, no Happy Hour Café com Leite dessa semana, encontrei o Pedro Miguel, que já não via há duas semanas. De longe, vi Pedro sentado na última mesa, cabisbaixo, com sua xícara de capuccino, totalmente absorvido pelos pensamentos.

— Oi Pedro! Que é que há?

— Senta! Senta aí! Estou muito pensativo!

— Estou vendo! É por causa do Natal?

— Quase, quase isso! Vou te contar!

“Eu estava vindo pela avenida, pensando na vida como dizem, quando ouvi o choro de um homem. Não tinha mais do que 40 anos e não estava maltrapilho, mas também não parecia ser alguém de posses.”

— O que está havendo amigo? Que choro é esse em uma noite estrelada como a de hoje?

— É um choro de alegria, de felicidade! É um choro de amor, de reconhecimento, de agradecimento!

— Conta pra mim homem! Que alegria é essa que te faz chorar?

— Hoje, meu amigo, acordei com uma tristeza muito grande. Um nó apertado no coração. O mundo parecia ruir!

— É, eu sei como é isso!

— Saí então para espairecer. Peguei um ônibus circular e fui olhando as pessoas nas ruas. Quanto mais eu olhava mais ficava apaixonado pela vida, e aquele nó, tão apertado, aos poucos começou a afrouxar.

— O que aconteceu? O que você viu?

— Aos poucos fui percebendo que a tristeza que às vezes sentimos, não é para nos sentirmos tristes, mas para entendermos que a alegria está em todo lugar e que ela está sempre ao nosso alcance.

A mulher, que no sinal de trânsito, dá a mão a uma senhora idosa para atravessar a rua, está abrindo as portas do coração para que a alegria possa preencher seu peito.

O homem, que apenas para pra escutar um pobre mendigo contar suas mazelas, está mostrando ao irmão, que ele não está sozinho. Esse homem está angariando créditos para sua vida.

O senhor, bem vestido, que está enchendo sua limusine de brinquedos, para tornar o Natal de crianças órfãs, um pouco menos doído, usa o dinheiro para sua prosperidade e a do próximo.

Aquele que, na sua porta, além de atender o pedinte com um pedaço de pão, dispõe dos seus olhos, boca e ouvidos para atender-lhe os anseios da alma, consegue alimentar o corpo e o espírito do pobre ser.

O motorista do ônibus, que pacientemente, aguarda a idosa mulher subir no veículo, está demonstrando seu amor ao próximo.

— Sim! Muito bacana! Mas e daí!

— Daí, meu amigo, se a tristeza invade seu peito, doe um pouco de si para que a alegria invada seu coração. Não aguarde o Natal para amar o seu próximo, pois o amor é atitude urgente, não pode ter data marcada. Não espere o Espírito Natalino, crie você mesmo o Espírito de Natal a cada dia, compreendendo e auxiliando aquele que está ao seu lado.

E por favor deixe, permita que a alegria invada você, não criando empecilhos e fantasmas, que tantas vezes construímos do nada.

— Entendi amigo! Você tem razão! A tristeza, que muitas vezes sentimos, tem a semente no nosso interior e, portanto, só cabe a nós desfazê-la. Obrigado! Um bom Natal para você!

— E é por isso que estou tão pensativo! As soluções são tão claras, os caminhos escancarados e só a nós, cabe escolher o que queremos. O Espírito de Natal nos ajuda a enxergar isso, mas precisamos exercer esse direito o ano todo.

— É Pedro! Você tem motivo para estar pensativo, mas também tem motivo para comemorar. Zeca, traz um expresso!

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