As Veias Abertas e Não Exploradas.
por Silvio T Corrêa
As veias, as vias, os caminhos, as opções, as competências ou outro nome qualquer! O nome que se dá, é o detalhe que não faz a diferença. O que acho importante é o pensamento que por vezes invade a nossa mente, quando temos a impressão de que poderíamos ter seguido outro caminho profissional onde teríamos, pensamos, tanto ou mais sucesso.
Mas e a tal da missão, da vocação, do talento! Isso não conta? Não é importante?
Deve ser! Entretanto, não é para ninguém ficar definindo a "sua" missão, vocação ou pesquisar qual o seu talento, baseado somente na opinião de terceiros. Normalmente, esses talentos surgem naturalmente. Não é para ninguém ficar preocupado! Tem que ficar com o olho aberto para percebê-lo!
Outro dia, eu estava pensando em fazer um curso de corte e costura. Sei lá porque me deu essa vontade! Deve ser pela possibilidade da criação e recriação. Acabei me lembrando de habilidades que já tive. Se eu tivesse prestado atenção nelas, os rumos talvez fossem outros.
Lembrei da infância e adolescência. Lembrei da minha habilidade para desenhar e, sem modéstia, desenhava bem! O desenho é uma forma de criação e recriação. Talvez por isso eu goste tanto de escrever.
Escrever não é a única coisa que gosto. Estou sempre procurando formas alternativas de executar algo. Essa história de forma alternativa, acabou sendo o que me induziu ao erro de escolha.
Acho que eu tinha 14 anos, não me lembro bem! Sei que a TV pifou e resolvi tentar consertar. Assim que abri a tampa traseira, vi um resistor - saberia disso mais tarde - com a "perninha" quebrada. Sem saída, por necessidade, juntei a perninha do resistor e "soldei" com pingos de cera de vela. Funcionou!
Por ser um evento que até hoje guardo, com detalhes, na memória, suponho que tenha sido crucial para que eu decidisse, alguns anos depois, fazer o curso de Engenharia Eletrônica, ignorando a verdadeira habilidade que era - ainda é - a arte da criação. Claro, a criatividade pode ser exercida em qualquer situação, mas não foi o caso da engenharia eletrônica na década de 80.
Gosto de cozinhar e as pessoas dizem que tenho jeito para isso. Novamente o foco é a criação e recriação! Gosto de inventar pratos (simples), lanches, sanduíches, temperos. Não acho que tenho tanto talento para cozinhar, que justificasse a escolha de uma carreira de cozinheiro, ainda que essa habilidade tenha surgido, que eu me lembre, por volta dos 16 anos, quando cozinhar não tinha o charme de hoje. Os grandes cozinheiros demonstram essa habilidade muito mais cedo.
No entanto, como os entendidos dizem que estes sinais são indicativos de vocação, de talento, gosto de me perguntar se teria sucesso como cozinheiro.
Acreditem, já fiz dupla com um grande amigo e irmão de coração, na área musical. Gravávamos fitas com as nossas composições - naquela época era muito caro a gravação de um disco (LP) -, participávamos de festivais, mesmo que não tenhamos ganho nenhum e tocávamos na casa de amigos. Certa vez chegamos a tocar e cantar em um conjunto musical, numa cidade de Minas Gerais, Ervália e pasmem, fomos aplaudidos. Daqui só salvo a atividade de criação das composições, pois a habilidade musical, mesmo que não seja próxima de zero, fica longe da classificação “suficiente”.
No início desse texto eu falei sobre missão e juro que eu gostaria de ter a certeza de vários amigos meus, que dizem que aquilo que fazem, é realmente o que mais gostam de fazer. Ainda que muitos não tenham uma missão redigida, com certeza eles têm, de fato, uma missão.
A minha missão deve ser “não ter missão”!
Agora, você não faz idéia do tanto de pessoas que ficam perdidas quando se fala em missão e vocação! Ficam às vezes com certeza, às vezes com dúvidas, às vezes sem rumo. São adolescentes, são universitários, são profissionais com carreiras sólidas e, até, aposentados. Também tive essas sensações e sei o quanto são perturbadoras.
O negócio fica ainda mais complicado quando, querendo ajudar, nos perguntam qual a nossa “visão de futuro” para daqui a 5 anos. Pinóia! Eu não sei onde vou estar dentro de 6 meses! Então me dizem que “assim vai ficar difícil”. O que eu posso fazer? Gosto de fazer várias coisas, e sei que, mesmo com muito a aprender, as faço bem. Mas a única habilidade que consegui detectar e que tenho certeza, é a “criação e recriação”.
Então vejo empresas que não enxergam um palmo diante do nariz, culparem apenas os colaboradores por não atingirem os objetivos quando, na verdade, a empresa, enquanto mentora (supostamente), deveria estar preocupada em guiar o seu colaborador para a função onde ele trouxesse o melhor resultado a ambos. No entanto deve ser mais cômodo aos “líderes” culpar os colaboradores do que assumir a sua (dos líderes) miopia empresarial.
A todos que estão lendo esse texto, acreditem em “fazer o que gosta”. O financeiro é importante; dependemos dele para “fazermos a atividade que gostamos”. Mas tenham em mente que nada supera a realização pessoal e essa, nenhuma empresa, nenhum governo, nenhum plano, nenhum país, conseguirá nos tirar pois é uma conquista guardada no peito, no nosso interior.
Acreditem que podemos superar as diversidades e não parem com os sonhos e as ações. Depende de nós!
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